A social democracia “solidária” com o terrorismo imperialista

“A social democracia alemã, além de calar-se, acaba de assumir uma nova função  histórica: ser escudeira do imperialismo.” (Rosa Luxemburgo)

Quando, em agosto de 1915, Rosa Luxemburgo reconheceu, inconformada, que o seu   partido havia mudado de rumo, a esquerda mundial ficou estarrecida. O revisionismo  marxista e a burocratização decorrente da ascensão ao poder culminaram com o ímpeto nacionalista de seus principais líderes, ocasionando a perseguição à sua parcela mais combativa e a repressão ao movimento revolucionário que fora, até ali, a sua base. Desde então, com o esvaziamento de sua proposta original, a social-democracia se apresenta como uma ilusória mediação entre o capitalismo e o socialismo em diversos países da Europa. O reformismo social-democrata, denunciado em 1915, gradativamente foi-se convertendo em alternativa de governabilidade aos capitalistas que, por sua vez, visualizaram na chamada “centro-esquerda” uma opção de governo em seu favor.

No atual momento, com o ingresso da Alemanha como aliada dos Estados Unidos na guerra contra o Afeganistão, os social-democratas alemães novamente reafirmam sua capacidade de adesão ao imperialismo internacional. Por uma estreita diferença de 10 votos, a autodenominada “centro-esquerda alemã”, composta pelo SPD e pelo Partido Verde, conseguiu a maioria necessária para atender ao apelo norte-americano e enviar 3.900 soldados ao Afeganistão.

A identificação da social-democracia com o imperialismo norte-americano foi claramente expressa à imprensa pelo primeiro ministro alemão Gerhard Schröder (SPD): “Die wollen und wir müssen” (“Eles querem e nós somos obrigados”). Mas, por que a Alemanha, uma das mais fortes economias do mundo capitalista, seria obrigada a aderir ao ufanismo norte-americano? Schröder se justifica dizendo que é uma questão de solidariedade com aqueles que ajudaram na reconstrução de seu país no pós-guerra de 1945 e, também, que é necessário defender a nação contra os terroristas.

Mas, se foi exatamente em função da tragédia de uma guerra que a Alemanha precisou de solidariedade, como pode um líder deste país defender a guerra como saída para o terrorismo? É possível ser solidário com quem é responsável pela tragédia de milhões de pessoas no mundo? Se a opção é pela solidariedade, será que, neste momento, não existem outras causas e outros povos precisando de mais solidariedade do que os norte-americanos? E, se é necessário proteger a nação do terrorismo, será que a adesão a uma guerra não provoca exatamente mais riscos de atentados no país?

Contudo, a decisão já foi tomada, apesar dos protestos populares e dos inflamados discursos da oposição. O Partido Verde, que até uma semana anterior era contrário ao ingresso da Alemanha na guerra, acabou, em sua maioria, aderindo fisiologicamente ao primeiro ministro para não comprometer a aliança governista, recentemente formada, após as eleições de outubro. No SPD, maior partido no parlamento, apenas uma parlamentar foi contrária à posição de seu governo.

A situação criada volta a registrar o que a história já demonstrou: a social-democracia, em momentos estratégicos, consegue ser a mais conveniente aliada do imperialismo, pois não hesita em tomar as decisões que a própria direita teria dificuldade de propor, por não possuir o invólucro de esquerda que a protege e serve de escudo diante da opinião pública.

 

Publicado na Revista Espaço Acadêmico
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