Acabar com a “loucura” da soja

Parar com a “loucura da soja” — A Agroecologia no Brasil

 

Bem-vindos a mais um episódio de “Comer o quê?”, o podcast da Coordenação Agrária de Hamburgo. O meu nome é Mireille e hoje eu gostaria de acompanhar vocês ao Brasil. O País é considerado o mais importante no cultivo de soja. A soja é cultivada em uma área do tamanho da Alemanha, e grandes quantidades dela são destinadas a animais na Europa. As consequências sociais e ecológicas são imensas e, apesar da crise climática, não se vislumbra um fim disso. Pelo contrário, as áreas de soja continuam a crescer.

 Qualquer pessoa que tenha percorrido o Sul brasileiro conhece as gigantescas lavouras de soja. O que é menos conhecido é que, nessa região em particular, surgiu um forte movimento social que desenvolveu alternativas ao modelo agroindustrial, produzindo com suas famílias alimentos saudáveis sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos sintéticos.

 Hoje eu falo com o Professor Antônio Andrioli sobre a importância dessa agricultura agroecológica e de pequena escala para as famílias, o ambiente e o clima. Nascido no Brasil, ele trabalha há muitos anos para o fortalecimento da agricultura agroecológica e também participa de campanhas aqui na Alemanha para acabar com o que ele chama de “loucura da soja”.

Técnico agrícola de formação, estudou filosofia e concluiu seu mestrado em Educação na Unijuí, no Sul do Brasil. Realizou seu doutorado em 2006 sobre o tema da soja orgânica versus soja transgênica na Universidade de Osnabrück. A partir de 2009, esteve envolvido na fundação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Esta universidade, especializada em sustentabilidade e Agroecologia, também oportunizou aos povos indígenas e aos agricultores o acesso à educação superior. Como diretor e vice-reitor da UFFS, ajudou na construção de seis campi da Universidade no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Recebeu do Bund Naturschutz em Bayern o Prêmio de Conservação da Natureza 2020 pelo seu empenho na proteção das florestas, pelo seu compromisso com a agricultura livre de transgênicos e pela sua luta em defesa dos direitos dos pequenos agricultores e dos povos indígenas. Desde o dia 1º de agosto, atua como pesquisador convidado no Center for Sustainable Society Research (CSS) da Universidade de Hamburgo com uma bolsa de pós-doutorado da Pão para o Mundo.

 Antônio, você trabalha há décadas pesquisando o cultivo da soja e seus impactos sociais e ambientais. O que torna o cultivo dessa planta tão perigoso?

A planta em si não é perigosa, pelo contrário, é uma planta maravilhosa que poderia ser muito mais utilizada para a alimentação. É a planta com a maior percentagem de proteínas (até 55%). O problema é a forma como ela é cultivada no nosso País, em forma de monocultura, para ser exportada principalmente para a China e para a Europa como ração para animais e óleo para a produção de biodiesel. Vem sendo cultivada com o uso da transgenia e muitos agrotóxicos. É a forma mais barata de proteína vegetal e, por isso, sua produção vem aumentando todos os anos. A sua expansão no Brasil está relacionada ao desmatamento, à lixiviação e perda da fertilidade de solos, à erosão e à contaminação das águas, ao trabalho escravo e ao trabalho infantil. Na forma em que é largamente produzida, tem causado destruição ambiental e violações dos direitos humanos. 

O cultivo de soja em grande escala também traz consigo problemas sociais e de direitos humanos. Muitas vezes, as pequenas famílias de agricultores são expulsas das suas terras ou não têm acesso à terra ou a sementes. Você poderia descrever mais detalhadamente a situação nas áreas de cultivo da soja?

Como é necessário ter cada vez mais terra para a expansão da monocultura da soja, os conflitos agrários também estão aumentando em decorrência disso. Muitas dessas áreas eram originalmente classificadas como florestas nativas, savanas e reservas naturais protegidas, ou eram ocupadas por povos indígenas e pequenos agricultores. Os povos que viveram da terra durante séculos e cultivaram alimentos para as suas famílias, estão sendo simplesmente despejados. O aumento da monocultura da soja impede uma reforma agrária massiva e qualificada no Brasil, que seria muito importante para fortalecer a agricultura familiar e camponesa, responsável por mais de 70% da produção de alimentos no País. A introdução da soja transgênica agravou ainda mais essa situação, porque, para que ela possa continuar sendo produzida, ocorre o aumento da pressão para expansão de áreas cultivadas para, com isso, cobrir os custos de produção, que vêm aumentando. Mesmo os pequenos agricultores que até pouco tempo atrás também produziam soja não conseguem acompanhar esse ritmo, devido ao aumento dos custos de produção (como sementes e fertilizantes) e à queda dos preços, ficando, assim, cada vez mais mais pobres e endividados. O aumento da concentração de terra ocasiona êxodo rural, mais desigualdade, aumento da pobreza e, por último mas não menos importante, mais fome nas áreas rurais.

O cultivo da soja não é sustentável e coloca em risco a segurança alimentar. Tendo em vista as muitas crises que estamos vivendo (crise da fome, crise climática, crise sanitária), são necessárias mudanças na agricultura e na produção alimentar em todo o mundo. A Agroecologia pode desempenhar um papel significativo diante desses desafios. Podes explicar o que é a Agroecologia?

A Agroecologia é basicamente a aplicação sistemática do conhecimento ecológico na área da agricultura. Como forma de produção, ela parte do potencial de uma agricultura que baseia a sua lógica de produção na conservação dos recursos naturais e na aplicação racional dos conhecimentos tradicionais e locais dos agricultores. Devido à complexidade da sua abordagem, tem sido caracterizada desde o início por uma abordagem interdisciplinar, que assimila ideias e métodos de diferentes campos e áreas da ciência e influencia o seu desenvolvimento até aos dias de hoje. Isso envolve uma análise global dos agroecossistemas relacionando o estudo dos ciclos minerais, dos processos biológicos e dos fluxos energéticos com a análise das condições socioeconômicas. Assim, a prioridade da Agroecologia é a otimização de todo um agroecossistema e não a maximização de um único componente. O objetivo da Agroecologia é desenvolver, de fato, uma agricultura que seja, ao mesmo tempo, sustentável, produtiva e rentável. Por meio da pesquisa interdisciplinar, em interação direta com os conhecimentos locais e empíricos dos agricultores, o objetivo é desenvolver e utilizar métodos que reduzam a dependência de insumos externos e o seu impacto ambiental, para que os agricultores e as suas comunidades possam produzir de forma sustentável.

No Sul do Brasil, no Estado do Paraná, o cultivo da soja em grande escala predomina. No entanto, muitas famílias de pequenos agricultores praticam a Agroecologia. Como isso se desenvolveu exatamente ali e por quê?

A Agroecologia pode ser entendida como uma reação aos efeitos negativos da implementação das chamadas teorias de modernização, especialmente nos países mais pobres. E, por isso, ela tem um forte componente político, na medida em que ela pode ter um efeito de estabilização econômica para pequenos agricultores. Isso se refere principalmente à redução dos custos de produção, à preservação das bases produtivas naturais de produção e à diminuição da dependência tecnológica. No contexto da reforma agrária dos anos 1990, foram organizados no Paraná os maiores assentamentos de trabalhadores rurais sem terra e atingidos por barragens da América Latina. Como a Agroecologia se baseia na ação coletiva de grupos da sociedade civil em sua relação com a natureza, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o maior movimento social do Brasil, também tem integrado cada vez mais a Agroecologia em suas propostas. Nessa região, é possível uma transição para a Agroecologia em todo um território de assentamentos da reforma agrária, o que, em um futuro próximo, poderá constituir um agroecossistema próprio. Para o MST, trata-se de não repetir as formas de produção nos assentamentos que os tornaram dependentes e sem terra no passado.

A agricultura agroecológica é intensiva em trabalho e conhecimento. Eu tive a minha própria impressão disso durante uma viagem de estudo em 2019 e me recordo da fala de um cafeicultor que disse: “É preciso ter a família para produzir na Agroecologia”. Que apoio e estruturas são necessários para que esse conceito possa ser implementado?

É muito importante que os agricultores compreendam que a Agroecologia não é simplesmente um retorno a antigos métodos de produção. Embora os métodos mais avançados da ciência devam ser combinados com o conhecimento tradicional dos agricultores, inicialmente, é muito importante saber que, na Agroecologia, é necessário mais conhecimento do que na produção tradicional. Portanto, é particularmente importante uma assistência técnica qualificada que se comunique com os agricultores de forma que não sejam criadas novas estruturas de dependência entre estes e os extensionistas. A troca de conhecimentos entre os próprios agricultores também é muito importante. Os experimentos precisam ser contextualizados e compreensíveis a todos para reforçar a autonomia dos agricultores, e a produção de alimentos saudáveis, com mais conhecimento e com preservação da natureza, também precisa ser recompensada. Por isso, o apoio do Estado é fundamental, especialmente no período de transição, para que os agricultores tenham uma garantia de comercialização e de melhores preços para os seus produtos. Com o tempo, em médio prazo, também pode ser verificada uma redução da penosidade do trabalho. Alcançando mais conhecimentos adaptados à natureza e menores custos de produção é possível aumentar os rendimentos, assim, a produção se torna mais estável e mais rentável em longo prazo.

Um grande sucesso e uma experiência única foi a criação de uma universidade baseada na Agroecologia. O que torna essa universidade tão especial?

A UFFS é a primeira universidade federal brasileira com um campus em um assentamento do MST. E talvez, em sua forma, seja a única universidade estatal do mundo que surgiu da luta dos movimentos sociais no campo. As organizações dos agricultores não só foram decisivas na sua criação, como também estão envolvidas na sua construção e nas principais instâncias de decisão da Universidade, inclusive na escolha do reitor, do vice-reitor e dos diretores dos campi. Ela foi criada na região com a maior predominância da agricultura familiar e camponesa e a maioria dos estudantes são filhas e filhos de agricultores da própria região. Além disso, as principais linhas de ensino, pesquisa e extensão — como a Agroecologia, a Soberania Alimentar e Nutricional, as Energias Renováveis, a Economia Solidária, a Saúde Pública e Coletiva e a Educação do Campo — foram decididas e implementadas com a participação dos agricultores, dessa forma, a universidade pode apoiá-los na construção do conhecimento, na extensão rural e na formação de profissionais locais. Em resumo, pode-se dizer que se trata da primeira universidade estatal de agricultores do mundo.

A comercialização local de produtos agroecológicos também desempenha um papel importante. Há muitos anos, foi criada a lei da alimentação escolar no Brasil. O que ela prevê e como ela ainda funciona?

Atualmente, o movimento agroecológico sofre uma grande pressão e quase perdeu todo o apoio do governo federal. O presidente Jair Bolsonaro, que ainda está no cargo, faz de tudo para fortalecer os grandes proprietários de terras e expandir massivamente o cultivo de soja e a criação de gado. Em breve, será eleito um novo presidente no Brasil. Quais perspectivas você vê?

Nós esperamos que haja mais apoio governamental para a agricultura familiar e camponesa. Especialmente por meio de um Ministério do Desenvolvimento Agrário, que foi abolido e integrado ao Ministério da Agricultura e que, atualmente, é gerido pelos grandes proprietários de terras do País, exclusivamente em benefício das agroexportações. Seria também particularmente importante negociar de forma bilateral com governos como o da Alemanha para criar centros de competência para pequenos agricultores, nos moldes dos que o governo alemão está criando na África e, mais recentemente, na Índia, para a promoção da Agroecologia. A destruição ambiental não pode mais continuar no Brasil. Os pequenos agricultores e os povos indígenas são os mais afetados pela atual política agrícola brasileira. No entanto, tivemos experiências tão importantes há poucos anos que mostram que é possível mudar isso. Estávamos fora do mapa da fome, mas infelizmente retornamos e temos, hoje, 33 milhões de pessoas (15% da população brasileira) passando fome. A maioria dessas pessoas vive em áreas rurais, exatamente onde já não não conseguem mais se alimentar e produzir alimentos. Esperamos muito que, a partir do próximo ano, um novo governo com um programa voltado à preservação ambiental esteja no poder e aprenda com a nossa história para que não continuemos desperdiçando e destruindo os nossos importantes recursos naturais e possamos aproveitar o potencial do País em produzir alimentos saudáveis de forma sustentável.

Você considera importante um afastamento da globalização da agricultura  e apela para a responsabilidade da União Europeia. Para a maioria dos animais produzidos na Alemanha, a soja é um componente central da sua alimentação, especialmente para a produção de suínos e aves. O que a Europa e a Alemanha deveriam e poderiam fazer para mudar isso?

Uma mudança na política agrícola internacional em favor de uma agricultura mais regional, ou seja, um afastamento da tendência de globalização do setor poderia ser uma saída. A preservação da agricultura familiar e camponesa em todo o mundo que, com solos mais saudáveis também contribui para diminuir a mudança climática, é a melhor medida para uma produção sustentável de alimentos e, ao mesmo tempo, para a proteção ambiental e um comércio mundial mais justo. Uma reforma da política agrícola europeia de maneira socialmente e ecologicamente justa precisa estar pautada no fortalecimento dos pequenos agricultores, na proteção de insetos e na preservação do clima. Existem alternativas, mas os governos precisam tomar mais iniciativas, pois eles dispõem de instrumentos para apoiar os agricultores, especialmente no período de transição para a produção agroecológica. As escolas e todas as instituições governamentais poderiam, por exemplo, comprar os seus alimentos para cantinas, restaurantes e e cafeterias diretamente dos agricultores ou de suas cooperativas, em vez de adquirir de grandes corporações do setor agrário. Tivemos uma boa experiência no Brasil com a lei da alimentação escolar e certamente podemos aprender muito uns com os outros.

O que nós, consumidores na Alemanha, podemos fazer para acabar com a “loucura da soja”?

1) Suspender o acordo com o Mercosul; 2) rotular os produtos de origem animal que tenham sido alimentados com soja transgênica; 3) controlar com mais rigor e transparência os resíduos de agrotóxicos nas importações de soja; 4) suspender a importação de soja do Brasil enquanto ela estiver relacionada a violações dos direitos humanos e à destruição ambiental; 5) no lugar de apoiar o governo brasileiro com recursos supostamente destinados a promover a agricultura sustentável, seria mais importante apoiar o País na construção de centros de competência de formação de agricultores com enfoque na Agroecologia, nos mesmos moldes daqueles que o governo alemão vem construindo na África e, mais recentemente, na Índia. Isso tudo seria importante se os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2030 realmente forem levados a sério na Alemanha.

Você é um pesquisador convidado do Centro de Pesquisa da Sociedade Sustentável da Universidade de Hamburgo. Em que está trabalhando atualmente?

Entre outras coisas, estou trabalhando em uma pesquisa de pós-doutorado sobre o papel da UFFS e da Agroecologia na implementação do direito à alimentação e o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa. Trata-se basicamente de aprofundar de forma teórica as seguintes questões orientadoras: 1) A UFFS pode contribuir para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, por meio da promoção da Agroecologia? e 2) em que medida a Agroecologia é uma oportunidade para manter, de maneira sustentável, a agricultura familiar e camponesa na região? A agricultura regional sustentável, que combina produção de alimentos e conservação da natureza, é um objetivo global ligado à luta contra a pobreza, a desigualdade social e a fome. Assim, a Agroecologia também não é mais vista como uma forma marginal de produção agrícola, mas já é considerada fundamental para a alimentação e o futuro da humanidade em nosso Planeta. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso também evoluir em sua dimensão epistemológica e combinar o conhecimento científico mais avançado com o conhecimento das comunidades tradicionais. Nesse diálogo, a presença de uma universidade pública, autônoma e construída em conjunto com os agricultores, pode ser um aspecto importante para uma transição agroecológica da agricultura.

 

Como você experimenta a conscientização de questões como alimentos sustentáveis ou mudança climática aqui? O que o motiva a continuar lutando pela Agroecologia?

Minha grande esperança é que os jovens pelos quais luto há décadas tenham cada vez mais acesso a uma nova forma de educação que possa conduzir a uma maior mobilização social e, como consequência, à consciência política. Durante meu doutorado na Alemanha, pude vivenciar a ampla resistência de muitos jovens contra a introdução e difusão dos transgênicos na Europa. Pude aprender muito com a juventude naquela época e, ao mesmo tempo, também contribuir em algo para o movimento com meus estudos sobre o tema. Depois disso, estive envolvido por 10 anos na criação e na construção de uma nova universidade estatal, que acredito ser única no mundo e pode ser cada vez mais decisiva para o movimento agroecológico. Ao mesmo tempo, as manifestações contra a agricultura industrial, que aconteceram na Alemanha por mais de 10 anos, me mostraram claramente que os jovens, em particular, estão interessados na proteção climática, na sustentabilidade e na soberania alimentar. E durante minha estada anterior na Alemanha, ou seja, em 2020, no Centro Rachel Carson da Universidade Ludwigs Maximilians, em Munique, fiquei muito impressionado com o movimento Fridays for Future. A temática ambiental talvez tenha aparecido menos publicamente agora no contexto da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia, mas, neste momento, elas também se tornaram ainda mais importantes. Mesmo os novos argumentos sobre a chamada nova transgenia que, na verdade, repetem argumentos antigos e já conhecidos, colocam novos desafios à importância da ciência em relação à agricultura. Esses exemplos mostram de maneira clara que existe uma crescente e necessária consciência ambiental na sociedade mundial e isso se tornou particularmente visível entre as novas gerações. Isso me motiva muito a continuar trabalhando para uma agricultura sustentável e adequada ao futuro, o que acredito que só seja possível com mais conhecimentos agroecológicos.

Por fim, em uma frase, qual é a sua visão de futuro do ponto de vista alimentar e climático?

Uma agricultura local e regional que respeite os recursos naturais e todos os seres vivos para que seja possível produzir comida boa e de verdade, de forma pacífica, sustentável, saudável e suficiente para todas e todos.

Gostaríamos de agradecer ao Antonio Andrioli a entrevista, que também está disponível para ouvir em nosso podcast “Iss Was?”: 

Agrar Koordination: Iss Was? – Der Podcast für mehr Wissen über Ernährung, Gesundheit und Klima

O texto original está disponível no link Agrar_Info_243_Agraroekologie_BRA_Antonio_Andrioli_komprimiert.pdf (agrarkoordination.de)

https://www.agrarkoordination.de/projekte/gesundheit-von-mensch-und-planet/iss-was-der-podcast-fuer-mehr-wissen-ueber-ernaehrung-gesundheit-und-klima/