Euro: “novo dinheiro”, nova vida?

Com o advento do Euro como moeda única européia, muitos alemães estão ansiosos pelo “novo dinheiro”. Uma propaganda na televisão relembra à população tudo o que ela pôde comprar com o Marco, despede-se da velha moeda e deseja muita felicidade com o Euro. O dinheiro é tratado como algo vivo e humano. As agências bancárias ofereceram moedas de Euro em padronizadas embalagens plásticas para serem trocadas por Marco alemão. Exatamente 53,5 milhões desses kits foram disponibilizados à população.

É muito interessante como as pessoas valorizam a nova moeda. Alguns alemães colocaram os kits de Euro como presentes embaixo de suas árvores de Natal. Outros demonstram insegurança, por não saberem se no futuro será melhor do que com a moeda alemã. Também há pessoas que se preocupam com a conversão da moeda, pois acreditam que seu dinheiro poderá perder valor.

Nesta situação, pode-se perguntar pelo valor que o dinheiro representa para a vida humana. Desde que existe dinheiro, existe a crença no poder do dinheiro: “Com dinheiro se pode tudo na vida!”; “O dinheiro rege o mundo!”; “Faturar dinheiro é o mais importante na vida”. Sim, realmente é importante que se tenha dinheiro. É também muito importante que se utilize bem o dinheiro. Mas, por que as pessoas valorizam o dinheiro mais do que ele “realmente” vale? Que parâmetro pode ser utilizado para determinar o valor do dinheiro? Por que as pessoas concebem o dinheiro como se ele tivesse vida própria?

O dinheiro é somente uma mercadoria com a qual se pode comprar outras mercadorias. Se as mercadorias possuem um alto preço no mercado, pode-se dizer que o dinheiro vale menos. Mas, se as mercadorias baixam de valor, pode-se acreditar que o dinheiro vale mais. Os preços são determinados pelo mercado, que depende da relação entre a oferta e a procura das mercadorias. O dinheiro que os trabalhadores recebem como salário também é determinado no mercado. Se há mais trabalhadores do que empregos no mercado de trabalho, menos é pago pelo trabalho, assim como seria pago mais se houvesse mais empregos que trabalhadores. Por isso, no mercado, as pessoas também são tratadas como mercadorias.

Mas, isso não possui nenhuma relacão direta com a vida humana. É apenas uma relação econômica desenvolvida na história. Por essa razão é que na economia capitalista, centrada no mercado, as pessoas valem à medida do dinheiro que possuem. As pessoas vendem seu trabalho e recebem dinheiro para comprar mercadorias, pagar seguros de saúde, etc. Quanto mais dinheiro se tem, mais e melhor se pode comprar para ter uma vida mais tranqüila e confortável. Isso é o máximo da felicidade capitalista.

Se ainda se tem esperança numa vida humana diferente e num “outro mundo”, pode-se dizer que o ser social capitalista não é o último ser da história. Mas, enquanto isso, muitas pessoas continuam se fetichizando com as mercadorias e acreditando no dinheiro como esperança de uma nova vida.

Publicado na REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO
 Endereço: http://www.espacoacademico.com.br/008/08aandrioli.htm