Durante todo esse tempo extremamente dolorido em que estivemos nos despedindo de você, mãe, há uma pergunta que queríamos muito responder: como podemos te manter viva, se agora é somente o teu corpo, sem vida, que está presente entre nós? Mas essa resposta existe: nós iremos te manter viva em nossa memória, em todos os dias da nossa vida!

 

E em tua longa enfermidade, foi logo a memória a mais afetada, desde o início… mas a doença nunca chegou ao limite de te impedir de não nos reconhecer mais. Também por isso precisamos agradecer, porque até teus últimos dias, lembrou de nós como teus filhos, a quem, como sempre nos ensinou, nos deu a vida de presente!

 

A mãe teve uma vida sofrida, mas o sofrimento também torna as pessoas mais fortes! E essa força fez a mãe completar recentemente os seus 80 anos de vida, junto aos familiares e amigos! Momentos como este nos deixam fortalecidos, pois acompanhamos tanto suas alegrias quanto testemunhamos o seu esforço para continuar vivendo, superando tantas situações de muita dor, com muita fé.

 

Ela nos deixou muitos conselhos, que agora parecem se tornar ainda mais fortes para nós! Eu lembro que, quando estávamos reunidos em família, ela costumava nos perguntar: “Wie lange werden wir noch hier beisammen sitzen? (quanto tempo será que nós ainda estaremos aqui todos juntos?)”. E essa era uma pergunta que, por mais que quiséssemos ignorar, se tornou para nós um verdadeiro convite à reflexão sobre a efemeridade da vida. Em seguida, partiu dessa vida o nosso pai e, agora, também ela o seguiu. Permanecemos só nós dois, eu e Liria!

 

“Du hast uns das Leben geschenkt; jetzt müssen wir dafür sorgen, dass unser Leben weitergeht” (você nos deu a vida de presente; agora cabe a nós cuidarmos para que a nossa vida continue)”. Porque, se você nos deu a vida de presente, também nos ensinou que precisamos defendê-la, preservá-la e torná-la melhor! Assim, desde muito cedo, ela nos ensinou a importância do trabalho, da fé e do estudo. Agradeço muito a ela por ter sido alfabetizado já aos 5 anos de idade, antes mesmo de ir para a escola, em casa e em língua alemã. Como mulher agricultora, nos ensinou que, estudando, poderíamos ter uma vida melhor, e, por isso, ela abdicou muito da sua própria vida para que os filhos pudessem ter essa vida melhor. Ela foi, por exemplo, morar na cidade, contra a sua vontade, mas fazia isso porque acreditava que, assim, os filhos teriam maiores chances de estudar.

 

A mãe dava muito valor à oração. Nos ensinava a rezar em alemão quando crianças e, com isso, ela foi nos ensinando com o seu gesto de doação aos filhos a importância da generosidade humana e do cultivo da fé. Todas as noites, antes de dormir, a sua útima recomendação era sempre a mesma: “betet! (rezem!)”. De tantas imagens recentes que ficaram desses seus últimos dias, uma das mais significativas é a da sua serenidade assistindo em casa a missa da noite de Natal da Igreja Nossa Senhora do Bom Conselho, de Campina das Missões, com o coral cantando “Noite Feliz”. Uma mensagem de fé, expressando seu desejo de descanso em paz. Dessa forma, ela certamente também influenciou a vida da Liria que, em sua tese de doutorado, que ela ainda pôde ver publicada em livro, se dedica a estudar a mística e a religiosidade das mulheres agricultoras!

 

Guardamos com muito carinho um objeto de uso pessoal, um pequeno travesseiro, que ainda carrega o seu cheirinho suave. Ele foi usado por bastante tempo nesses anos de enfermidade e carrega uma foto nossa (minha e da Liria) e um poema de Mário Quintana, que resume o que sentimos em vida por quem dedicou sua vida aos filhos e à oração: “Mãe, são três letras apenas, as desse nome bendito. Também o céu tem três letras. E, nelas, cabe o infinito. Para louvar nossa mãe, todo o bem que se disse nunca há de ser tão grande como o bem que ela nos quer. Palavra tão pequenina, bem sabem os lábios meus. Que és do tamanho do céu e apenas menor que Deus!”.

 

Para concluir, nos resta te agradecer. Mãe, foi você que nos ensinou as primeiras palavras, que nos amparou nos primeiros passos, que nos orientou nos caminhos da vida. Por tudo isso nosso grande amor por ti ainda é pouco! Nós precisamos louvar e agradecer todos os dias por você ter nos dado a vida de presente!

 

A mãe não está sofrendo mais, mas irá seguir forte conosco, em nossos pensamentos, em nossas lembranças e em nossas ações.

 

Beijo, mãe! Dorme com os anjos!