Nota para o CONSUNI – UFFS

Senhor presidente, prezadas conselheiras e prezados conselheiros:

Em uma universidade partimos do pressuposto que as disputas democráticas devam ser pautadas por propostas, pelo debate de ideias e, acima de tudo, pelo direito à divergência. Afinal, é isso que caracteriza a ideia de universidade, ou seja, de unidade na diversidade. Essa é a razão que nos leva a apresentarmos aqui a nossa proposta, seguindo as regras previamente estabelecidas e, tendo em vista que representamos uma das posições sobre a UFFS: a ideia de universidade pública e popular que, como construção histórica, segue em disputa.Nós defendemos um legado histórico construído coletivamente ao longo de uma década, de forma inovadora e exitosa. Essa universidade é a primeira construída de forma multicampi na fronteira oeste do sul do Brasil em três estados da federação: sudoeste do Paraná, norte-noroeste do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina.
A UFFS é um exemplo de experiência bem-sucedida de interiorização e deslitoralização do investimento estatal brasileiro, numa região em que predominam a agricultura familiar e camponesa, o cooperativismo, o associativismo, o mutirão e os pequenos empreendimentos. A terra sobre a qual foram construídos nossos campi foi ocupada por muitos povos e é o berço dos movimentos e organizações sociais que, juntos, conquistaram uma universidade. Nesta, desde seu início e de forma inédita no Brasil, mais de 90% dos estudantes são oriundos de escolas públicas e mais de 80% representam a primeira geração da família a cursar o ensino superior. E mais, o projeto de universidade que implementamos e defendemos, além de assegurar o acesso aos estudantes, atenta para a sua permanência e êxito na universidade, disponibilizando auxílios a todos aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade sócio-econômica. Caracterizando, portanto, um perfil de universidade pública e popular.
Temos o único campus de uma universidade federal dentro de um assentamento de Reforma Agrária e o primeiro localizado na menor cidade, com pouco mais de 10 mil habitantes. Mais tarde, iniciamos o primeiro programa de acesso a migrantes, o primeiro curso de medicina a integrar e coordenar o programa Mais Médicos na Região Sul e a proposta de um campus dentro de uma comunidade indígena. Temos, atualmente, o maior número de estudantes indígenas do sul do Brasil, tivemos o maior programa de formação continuada de professores, o primeiro programa de formação de jovens rurais, de mulheres agricultoras, de lideranças cooperativistas, de territórios rurais e da cidadania e o centro de referência em direitos humanos. São tantas as primeiras, as maiores e as conquistas únicas em tão pouco tempo.
Em seu estatuto, a UFFS definiu, de forma inovadora, a comunidade regional como integrante da comunidade universitária, levando a sociedade civil organizada a participar em seus conselhos e decisões e respeitando sua autonomia de organização e representação. Dessa forma, a universidade foi capaz de assumir demandas a partir das necessidades locais e regionais, as quais também são reconhecidas como grandes causas da humanidade: a sustentabilidade, as energias renováveis, a agroecologia, a soberania alimentar e nutricional, a saúde pública e coletiva, os direitos humanos, a diversidade linguística, o bem-estar animal, a formação de professores, a educação popular, a educação indígena, a educação do campo, a economia popular e solidária, o cooperativismo e o desenvolvimento regional.

Essa universidade foi bem-feita, está sendo muito bem avaliada, reconhecida, consolidada e é a que foi construída da forma mais rápida na história desse país. É um projeto coletivo, que tem no seu DNA a cidadania, a inclusão social e a justiça cognitiva. Para isto, zelou pela qualidade acadêmica. Contamos atualmente com uma boa estrutura física, um excelente corpo docente e técnico administrativo, servindo aos que mais precisam da educação pública, gratuita e de qualidade! Nossos indicadores demonstram que o estudante oriundo da escola pública, aquele historicamente excluído, não diminui a qualidade do ensino superior. Trata-se de uma condição de justiça e de igualdade de oportunidades.
Temos, entre as universidades brasileiras, um recorde de investimento em obras, quase todas já concluídas e sendo construídas ao mesmo tempo, priorizando o que exigem as Diretrizes Nacionais dos Cursos. São 54 obras finalizadas em seis campi, com 4,3 milhões de metros quadrados de área construída, totalizando R$ 321,5 milhões investidos desde 2010. Um investimento de R$ 293.324.647 milhões em obras de infraestrutura (R$ 54.719.509,00 em móveis e R$ 238.605.138,00 em bens imóveis), 118,8 mil metros quadrados de edificações, 236,8 metros quadrados de área pavimentada, 1,2 milhões de metros quadrados de áreas experimentais e 721,7 mil metros quadrados de áreas ambientais a preservar.
Atuando com um corpo docente de 703 docentes efetivos e 85 professores substitutos, 694 servidores técnicos administrativos (TAEs), todos já concursados, e 231 trabalhadores terceirizados, atingimos uma folha de pagamento anual de R$ 186.896.752. Nossos servidores são majoritariamente jovens, com 67,64% na faixa de 30 a 45 anos, o que demonstra um potencial enorme de construção futura para a universidade, a partir dos que se dispuseram a colaborar na construção deste projeto de universidade, em sua maioria, certamente, motivados pela proposta inovadora e pela oportunidade de participação coletiva. Dos TAEs, 172 são mestres e 17 são doutores. Dos docentes, 69,56% possuem doutorado e 89% tem Dedicação Exclusiva.
É com esse coletivo que construímos 44 cursos de graduação, 62 especializações, 15 mestrados e 2 doutorados interinstitucionais, oportunizando o acesso a 9.983 estudantes com matrícula ativa (8.568 estudantes na graduação e 1.415 estudantes na pós-graduação). Já são 646 projetos de pesquisa em execução cadastrados e 35.225 pessoas contempladas em atividades de extensão (171 programas de extensão e 78 projetos de cultura).
Por outro lado, sabemos que os nossos desafios agora são novos: a universidade precisa ser cada vez mais conhecida, reconhecida e assumida pela comunidade regional. A UFFS precisa estar cada vez mais inserida nos sistemas educacionais, agrários e de saúde, em âmbito regional e nacional, tendo como “leme” os grandes eixos norteadores que juntos definimos nas Conferências de Ensino, Pesquisa e Extensão- COEP, em audiências públicas, leituras comunitárias e deliberações dos seus conselhos superiores desta instituição. A universidade também precisa estar mais conectada com as demandas de desenvolvimento regional, construídas pelos conselhos regionais, territórios da cidadania e políticas de Estado, em nível federal, estadual e municipal.
Por isso, propomos um reposicionamento estratégico da UFFS. Isso significa, em resumo: 1) manter e fortalecer seu projeto histórico: inclusivo e popular; 2) lutar pela permanência e êxito dos estudantes; 3) expandir a pesquisa e a pós graduação; 4) exigir a responsabilidade do governo federal na sua manutenção, consolidação e expansão da UFFS; 5) integrar politicamente a instituição com a comunidade regional, num contexto de crise econômica, política, social e cultural do país; 6) internacionalizar a universidade, visando acompanhar as tendências globais em termos de pesquisa, pós-graduação e inovação e de consolidação universitária; 7) buscar novas oportunidades de recursos num contexto nacional tendencialmente desfavorável; 8) construir uma nova forma de gestão, dialógica, compartilhada e participativa.
Nesse sentido, a Chapa Juntos Avançamos apresenta um plano de gestão prevendo o resgate do Projeto Original de Universidade Pública, Popular e de Qualidade, com seus preceitos de fomentar o desenvolvimento regional, para promover justiça e ascensão social, por meio de uma prática pedagógica universitária para o empoderamento e autonomia dos sujeitos.
Propomos uma atuação no sentido de consolidar a UFFS a partir do “Quadrilátero Universitário”: do Ensino, da Extensão e da Cultura, da Pesquisa com a Ciência, a Tecnologia e da Inovação, em um ambiente em pleno processo de Internacionalização.
Afirmamos a necessidade de realizar a reforma administrativa para modernizar, desburocratizar, desconcentrar e descentralizar a universidade, com a adoção de um novo modelo de gestão, através da Gestão Compartilhada com Planejamento Estratégico Participativo, com Orçamento Participativo e Transparente, efetivando-se por meio da Reitoria Itinerante e dos Fóruns de Participação.
Reconhecemos o papel de todos os trabalhadores em educação como educadores, possibilitando, assim, que integrem programas e projetos de pesquisa, extensão e cultura, promovendo a autonomia e o empoderamento das pessoas que se dedicam à consolidação da UFFS.
Anunciamos a implementação e a ampliação da Política Estudantil, tendo compromisso com as Políticas de Acesso, Ingresso, Permanência e Moradia, avaliando constantemente a Evasão, a Retenção e a Repetência.
Buscaremos as condições para o investimento em Ações que visam a melhoria do ambiente acadêmico e a Qualidade de Vida de todos. Criaremos espaços saudáveis para uma agradável convivência, descanso e lazer.
Por fim, nos comprometemos com a defesa constante da manutenção do ensino público, gratuito e de qualidade, como um direito, um bem social e um espaço democrático.
A democracia é uma conquista histórica da humanidade que precisa ser fortalecida, especialmente em tempos de ataques ao conceito de política, aos processos democráticos e às lideranças. Mais que um discurso, ela exige vivência, experiência e atitude, pois é fruto da construção de processos e relações verdadeiramente democráticos. Isso também exige coerência na forma como são construídas as disputas, pois processos eleitorais podem não necessariamente acumular mais força política. Momentos como esse que estamos vivendo na universidade, podem contribuir para o fortalecimento da democracia ou a sua negação. E, por se tratar também de um processo educativo e pedagógico, ela exige muita responsabilidade por parte de todos que aceitam o desafio de participar de uma disputa democrática, especialmente no atual contexto. Por isso, se num processo de escolha não forem devidamente seguidos todos os ritos formais e as regras previamente estabelecidas e, se as lideranças não estiverem abertas a dialogar com todas as forças envolvidas e não se submeterem a cumprir acordos, qualquer suposta maioria pode ruir rapidamente.
Assim, ao depositarmos na democracia a esperança de uma sociedade mais livre e humanizada, não pressupomos ela apenas como meio ou forma de exercício do poder, mas como um valor, um princípio, uma ideia regulativa, uma forma de resistir e de avançar. Democraticamente, com ampla e profunda participação de todos os sujeitos envolvidos, o projeto de universidade permanece em aberto, em construção e em disputa.
Nesse momento importante da vida democrática da nossa Universidade, ainda tão jovem, mas profundamente marcada pelas disputas políticas do país desde a sua origem, estamos aqui para manifestar nossa plena disposição de seguir o que é democraticamente estabelecido pela maioria da comunidade universitária e que aqui está representada. O nosso compromisso é respeitar a vontade dessa maioria, defender a autonomia universitária, o projeto histórico dessa universidade e suas grandes causas. Independente do lugar onde estivermos, seguiremos lutando para que o projeto de universidade pública e popular não se perca pelo caminho. E, por acreditarmos na autoridade da razão, na força política da unidade e da coerência, a defesa da democracia está acima de qualquer disputa eleitoral! Que sigamos Juntos!

Antônio Inácio Andrioli (candidato a Reitor) e Adriana Remião Luzardo (candidata a Vice Reitora)