Reportagem do Jornal Hoje sobre apreensão de agrotóxicos

Trata-se basicamente de dois produtos: o inseticida Benzoato de Emamectina e o herbicida Paraquat, coincidentemente de propriedade da maior empresa da indústria farmacêutica mundial, a Syngenta, recentemente adquirida pelo grupo chinês ChemChina. Coincidentemente, também a origem dos cultivos transgênicos no Brasil tem origem em sementes de soja contrabandeadas da Argentina. E um dos primeiros milhos transgênicos liberados no mercado foi produzido, coincidentemente, pela Syngenta.
O Benzoato de Emamectina vem sendo usado para combater lagartas que não morrem mais com a toxina produzida pelo Bacillus thuringiensis, cuja bactéria foi incorporada de forma transgênica em plantas como milho, soja e algodão. As lagartas se tornaram resistentes à toxina e sua infestação aumentou muito em decorrência da eliminação dos seus principais inimigos naturais, pelas altas doses de toxina disponíveis no meio ambiente após a liberação de plantas transgênicas consideradas resistentes a lagartas.
O Paraquat foi amplamente utilizado para combater ervas daninhas resistentes ao glifosato. A soja, o milho e o algodão transgênicos eram considerados até recentemente como uma solução para o cultivo de monoculturas altamente suscetíveis à concorrência com ervas daninhas, por serem resistentes ao glifosato (um herbicida secante não seletivo, capaz de matar muitas espécies de plantas). Em poucos anos, cada vez mais ervas daninhas se tornaram resistentes ao glifosato, o que levou agricultores utilizarem herbicidas mais tóxicos que o glifosato, como o Paraquat, mas proibido.
Mais informações sobre os produtos mais apreendidos:
1) Benzoato de Emamectina (autorização emergencial para uso restrito) O produto é altamente tóxico para abelhas e outros insetos benéficos, sua ação é extremamente tóxica em mamíferos (ação neurotóxica e teratogênica, podendo causar má formação fetal). Seu registro não foi aceito pela ANVISA em 2010, em função dos seus efeitos neurotóxicos. Em 2013, uma instrução normativa do Ministério da Agricultura (IN 08/2013), autorizou sua importação emergencial em função da sua eficácia para combater alta infestação de lagartas em algumas regiões do Brasil. Houve uma nova liberação de uso emergencial por decreto do Ministério da Agricultura em 2017, com uso liberado até julho de 2019 para os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Piauí, Maranhão e Bahia. Atualmente sua venda segue restrita no Brasil (uso até a concentração máxima de 5%) para combate de uma espécie de lagarta (Helicoverpa armigera) nas lavouras de soja, milho, feijão e algodão.
2) Paraquat (está proibido definitivamente no Brasil) Pode causar intoxicação aguda (matar em até 24 horas), seu efeito é mutagênico (como desregulador endócrino, afeta hormônios e prejudica o aparelho reprodutor). Já foi proibido na Europa desde 2007, por estar associado ao Mal de Parkinson. Foi proibido pela primeira vez no Brasil em 2017 (RDC da ANVISA N° 177 de 21/07/2017, dando um prazo de 3 anos para os agricultores se adaptarem à proibição. Por último, o produto teve uma autorização excepcional para uso de seu estoque final na safra 2020/2021 (RDC da ANVISA N° 428 de 07/10/2020): uso de período máximo permitido até 31/05/2017).
Quais seriam os principais problemas referentes a produtos contrabandeados, além da questão comercial e de não pagamento de impostos?
– Não conhecemos a sua origem;
– Não conhecemos a sua dosagem;
– Pode haver misturas, que potencializam as substâncias;
– Os efeitos ao meio ambiente e à saúde já são conhecidos, por isso os produtos já foram proibidos;
– Podem ser esperados outros efeitos, muito mais danosos, de produtos desconhecidos e de dosagem alterada por possíveis misturas.
As perguntas finais que ficam e não foram respondidas:
1) Qual seria o destino desses agrotóxicos proibidos? 2) Quais são os custos ambientais e para a saúde pública? 3) Quais são as corporações multinacionais que produzem os medicamentos para tratar problemas que esses venenos causam?
20/04/2022, Por Sofia Mayer e Jean Raupp, g1 SC
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