O desafio de construir a UFFS em Cerro Largo

Antônio Inácio Andrioli* 

 

       A Universidade Federal da Fronteira Sul iniciou suas aulas no dia 29 de março, sendo a 11ª criada no Governo Lula e a primeira interestadual, com abrangência nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, em regiões que, historicamente, nunca tiveram a presença de uma universidade federal. A região Norte do Estado do Rio Grande do Sul terá acesso ao ensino, à pesquisa e à extensão públicas pela primeira vez em sua história, através de dois Campi: um em Cerro Largo e outro em Erechim. O desafio é construir uma universidade pública, democrática e popular. Além de ser uma instituição plural e aberta a todas as teorias, métodos e concepções científicas, a UFFS surge da luta histórica dos movimentos e organizações sociais, ou seja, ela nasce da comunidade para servir à comunidade. Portanto, para que ela possa ser pública de fato, a UFFS, além de ser estatal, não pode servir a interesses privados, mas sim aos anseios da coletividade. Para que possa ser democrática, é necessário construir instâncias legítimas de participação e representação da sociedade civil para a tomada das suas principais decisões. Com esse propósito, o Campus Cerro Largo realizou no dia 03 de março o 1° Seminário de Interação entre a Universidade e a Comunidade, mobilizando o público de 4 regiões: Missões, Fronteira Noroeste, Celeiro e parte do Noroeste Colonial, para refletir sobre o impacto da sua implantação na dinâmica de desenvolvimento da macroregião; discutir a política universitária de ensino, pesquisa e extensão e analisar o envolvimento e o compromisso da sociedade localregional com o processo de sua consolidação. Enquanto uma equipe está trabalhando na sistematização desse seminário, diariamente estão sendo recebidas demandas das entidades que se somam aos documentos de audiências realizadas nos municípios da região. A meta é constituir um Conselho Comunitário até julho deste ano, para que, através dele, se possa influenciar a definição dos programas de pesquisa e extensão, previstos para serem aprovados no mesmo período pelo Núcleo de Assessoria Pedagógica do Campus. O caráter popular da UFFS prevê a inclusão social de estudantes que historicamente nunca tiveram acesso ao ensino superior. Nesse aspecto, os números sobre a primeira turma que iniciará suas aulas nesse ano são animadores: 91% dos estudantes da UFFS são oriundos da escola pública; 79% não cursaram pré-vestibular; 87% são de família com renda de até 5 salários mínimos; em sua maioria são trabalhadores assalariados e 87% representam a primeira geração da família a chegar a um curso universitário. Já está à disposição do Campus Cerro Largo um grupo altamente qualificado de 25 servidores e de 29 professores pesquisadores, dispostos a contribuir na formação humana, na construção do conhecimento científico e de tecnologias socialmente e ecologicamente apropriadas à realidade local. É para isso que serve a ciência e a própria universidade: melhorar a qualidade de vida e contribuir na construção de uma sociedade cada vez mais democrática e mais humana. O
Campus Cerro Largo encontra-se em fase avançada de implantação. A direção tem trabalhado intensivamente desde o início do ano, em parceria com o poder público local e a comunidade regional. As reformas e adequações estão em andamento e o início das obras para a construção do novo prédio está previsto para o mês de maio deste ano. Nesse momento, em que a UFFS inicia suas atividades em Cerro Largo, estamos convidando a comunidade regional para que se integre na construção da nova universidade. A UFFS surge com esse propósito, expresso na tríade da chama verde de seu símbolo: o compromisso com a construção da ciência, da arte e da justiça, tendo por base a pluralidade de idéias, a democracia e a sustentabilidade ambiental.

 

Revista Espaço Acadêmico – nº 107 – Abril de 2010