O Roundup, o câncer e o crime do “colarinho verde”

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É surpreendente como, diante da expansão do cultivo da soja transgênica, vem sendo construída uma imagem positiva do herbicida Roundup e de seu ingrediente ativo, o glifosato. Em recente pesquisa de campo realizada com agricultores no Rio Grande do Sul, chamam a atenção a forma como o agrotóxico vem sendo considerado pelas pessoas que estão em contato direto com o produto e, sobretudo, os argumentos que estão sendo difundidos com a clara intenção de amenizar seus possíveis efeitos à saúde e ao meio ambiente.

A opinião difundida é de que o glifosato seria menos prejudicial em comparação aos herbicidas anteriormente utilizados. Este é um dos principais argumentos criados pela Monsanto para propagandear as vantagens da soja transgênica, baseado na classificação toxicológica do produto no Brasil como “faixa verde”, a classe IV. Na linguagem dos agricultores entrevistados, o Roundup chega a ser caracterizado como não sendo tóxico ou como o “bom veneno”. Há agricultores que afirmam ter ingerido, acidentalmente, o produto e que as conseqüências teriam sido “apenas” vômito e diarréia. Alguns entrevistados relataram que agrônomos e técnicos agrícolas lhes garantiram que o Roundup não é tóxico e que poderia ser, inclusive, ingerido pelo ser humano sem maiores conseqüências à saúde. Outros afirmam ter presenciado demonstrações provando que o Roundup não é tóxico a vertebrados: vendedores do produto teriam despejado o produto em um balde contendo água e pequenos peixes e o resultado teria sido positivo, ou seja, os peixes continuaram vivos.

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A Alemanha, o Brasil e o conflito Norte–Sul

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A Alemanha, o Brasil e o conflito Norte–Sul[*]   As relações entre Alemanha e Brasil possuem uma longa tradição. No que se refere à imigração, os alemães marcaram sua presença no Brasil, especialmente no Sul, há mais de 180 anos. E a Alemanha é, atualmente, o país europeu com o maior número de brasileiros. Mas, é na área da economia que as relações entre os dois países ocorrem de forma mais intensiva. Em torno de 1.200 empresas alemãs estão estabelecidas no Brasil, principalmente no Sudeste do país,…

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60 anos após a 2ª. Guerra Mundial: quem libertou quem do quê?

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O dia 8 de maio é lembrado na Alemanha como o “dia da libertação”, pois marca, oficialmente, o fim da 2ª. Guerra Mundial e do império nazista. Em função da comemoração dos 60 anos deste momento histórico, foram muitos os momentos em que se debateu sobre esta guerra, o nazismo, as barbáries de Auschwitz e, enfim, o que isso tudo representa para o povo alemão. A mídia não se cansou de apresentar documentários e debates sobre o tema, várias manifestações ocorreram tanto por parte de organizações antifascistas como neonazistas e, é difícil encontrar um cidadão alemão que não tenha parado um momento para refletir sobre parte dessa história do seu país, que continua marcando profundamente o cotidiano da maioria das pessoas. Afinal de contas, foram em torno de 60 milhões de pessoas que morreram em função desta guerra, uma das maiores tragédias da história humana. Em tudo isso, chama a atenção a forma como o assunto é massivamente abordado, utilizando a técnica do recorte histórico para isolar acontecimentos do contexto maior que permitiria melhor compreendê-los. Nesse sentido, o conceito de libertação do nazismo é inadequado para a situação alemã. Ele é utilizado para legitimar a ocupação do país por parte das tropas aliadas e soviéticas e reforça ideologicamente uma pretensa vitória dos valores capitalistas ocidentais e a dominação sobre o leste europeu. Se o fim da 2ª. Guerra Mundial representaria uma libertação, é necessário perguntar quem são os libertadores, quem são os libertados e do que ele teria libertado a Alemanha?

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A nova lei de biossegurança: o governo Lula derrota a si mesmo

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Antônio Inácio Andrioli* Após o governo brasileiro ter liberado, excepcionalmente, por três vezes consecutivas a soja transgênica (através das Medidas Provisórias 113, 131 e 223), em 2005 foi aprovada a assim chamada lei de Biossegurança, com a qual se espera que o debate jurídico iniciado desde 1996 seja encerrado. Importante na nova lei é que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio - saiu tão fortalecida que ela assumirá sozinha a competência pela liberação da pesquisa e do plantio de transgênicos. O governo Lula, que várias…

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Um capitalismo mais humano?

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As tentativas de “humanizar” o modo de produção capitalista não são novas. Desde os socialistas utópicos que, diante do aumento do desemprego e da miséria gerado com o avanço da Revolução Industrial no século XIX, foram muitos os pensadores e ativistas sociais que imaginavam uma possibilidade de sensibilizar os capitalistas com relação aos problemas sociais causados pelo capitalismo. Na Alemanha atual, com o aumento da taxa de lucros contrastando com o aumento do desemprego e da pobreza, vários políticos estão indo para a ofensiva apelando para uma “responsabilidade social e moral” das empresas. O apelo vai no sentido de que empresas que apresentam um extraordinário crescimento na taxa de lucros devam investir na geração de novos empregos. Mas, por que os capitalistas teriam interesse em gerar empregos e até que ponto é possível exigir uma face “mais humana” do capitalismo?

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Neonazismo e insegurança social na Alemanha

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Sessenta anos após a libertação dos últimos sobreviventes de Auschwitz, a polêmica em torno do passado nazista não está superada na Alemanha. O partido nazista NPD (Partido Democrático Nacional da Alemanha), formou bancada na Saxônia, vem elegendo deputados em outros Estados alemães e está disposto a continuar organizando manifestações como a do dia 08 de maio, que marca o fim da Segunda Guerra Mundial, em memória aos soldados alemães. As manifestações, embora pequenas, atraem a atenção seja pela forte rejeição que enfrentam – o que sempre demanda intensa mobilização policial para proteger e isolar os manifestantes frente aos grupos anti-nazistas –, seja pelo espaço ocupado na imprensa. Os partidos maiores, como o SPD e a CDU/CSU, há mais tempo vêm propondo a proibição do NPD, alegando sua contrariedade aos “princípios democráticos e constitucionais” vigentes no país. O problema, entretanto, é que as tentativas de proibição impetradas até o momento, além de inócuas, só têm contribuído para um crescimento dos neonazistas. Como se explica esse crescimento?

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O capitalismo educa para o parasitismo social

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“Fôssemos infinitos, tudo mudaria. Como somos finitos, muito permanece”. (Bertolt Brecht).   A suposição de uma natureza parasitária do ser humano continua atual. Afirmações como a de que a exploração sempre tenha existido, ou de que ela seja uma mera manifestação da natureza humana, continuam sendo usadas para legitimar a expansão da barbárie capitalista. Na Alemanha, a crença numa suposta natureza capitalista da humanidade é expressa tanto pelo senso comum como por alguns intelectuais quando se debate a possibilidade de uma sociedade não-capitalista, sendo apresentada normalmente como…

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A atualidade da leitura

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“Uma das heranças mais perniciosas da Ilustração foi, precisamente, a de pensar que o novo é sempre melhor”  (Atílio Borón).   Uma das características que, certamente, chamam a atenção de um estrangeiro na Alemanha é o hábito de leitura do povo alemão. Nos trens, nas bibliotecas, nos cafés, nos bosques e parques é normal encontrar pessoas lendo. Com o intensivo período de inverno e a permanência prolongada das pessoas dentro de casa, a leitura é uma atividade que continua atraindo muitas pessoas. Na lista de livros mais…

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Educação, globalização e neoliberalismo: o debate precisa continuar!

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Robinson dos Santos y Antônio Inácio Andrioli INTRODUÇÃO "Nós vivemos na era da globalização, tudo converge, os limites vão desaparecendo". Quem não ouviu, no mínimo, uma destas expressões nos últimos anos? Globalização e neoliberalismo são, sem dúvida, marcas de nosso tempo. No entanto, a discussão sobre o conteúdo de tais conceitos está permeada de ambigüidades e, para além dos modismos, ainda suscita dúvidas. Diagnósticos e suposições acerca de uma sociedade mundial, uma paz mundial ou, simplesmente, de uma economia política mundial surgem seguidamente, apontando para processos de…

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O Orçamento Participativo de Porto Alegre: um exemplo para a Alemanha?

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A democracia direta é novamente objeto do debate político mundial. A decepção e indignação da maioria da população com relação às atuais formas de democracia representativa permitem uma reflexão sobre alternativas políticas que não são novas, mas que renovam sua importância e seu significado. Na Europa, a proposta do OP – Orçamento Participativo – de Porto Alegre está sendo muito bem recebida como exemplo de ampliação e radicalização da democracia. Com base na experiência de um país do sul, também o “velho continente” vem desenvolvendo exemplos que demonstram a possibilidade de aplicação dos princípios universais deste modelo, mesmo reconhecendo que ele não pode ser simplesmente transferido. Mas, ao mesmo tempo, também surgem os já conhecidos preconceitos contra formas de democracia direta como: a) elas só seriam possíveis em pequenos municípios; b) elas seriam muito lentas; c) seria necessário dar mais valor a critérios técnicos, sobre os quais a população não teria conhecimento; d) elas estariam em contradição com as leis e reduziriam a função do parlamento. O que, afinal, podemos aprender com a experiência de Porto Alegre e quais são as condições necessárias para uma introdução do orçamento participativo na Alemanha, com base nos princípios de Porto Alegre?

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