Após as eleições municipais: para onde vai o PT?

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Numericamente o PT – Partido dos Trabalhadores – é o vitorioso das eleições municipais de 2004. Uma análise mais profunda, no entanto, demonstra o quanto a situação é complicada, onde vitórias e derrotas se destacam.

As eleições municipais de 2004 foram anunciadas como um teste para o governo Lula. O sucesso eleitoral significaria que o rumo do governo e a estratégia de consolidação de uma hegemonia política do PT no Brasil estariam acertadas. Uma derrota eleitoral, especialmente nas capitais, significaria um perigoso sinal de fortalecimento dos partidos de direita na arena política do país e seu possível retorno ao governo federal em 2006. Para a esquerda do PT os resultados das eleições seriam problemáticos de qualquer maneira: um fracasso eleitoral do PT seria um dura derrota para um projeto maior da esquerda latinoamericana, que durante os vinte anos de construção do PT foi adquirindo uma importância cada vez mais significativa; uma vitória eleitoral, por outro lado, viria a legitimar o atual rumo do governo Lula, a política econômica neoliberal colocada em curso até o momento e a política de alianças assumida pela direção majoritária do PT. No período eleitoral, no entanto, todas as tendências internas estavam unificadas em torno de um objetivo comum: derrotar os adversários do PT e, posteriormente, haveria espaço para a disputa política interna no partido. Mas, quem são, precisamente, os adversários do PT e em que se concentrará o debate interno após as eleições municipais?

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O que eu tenho a ver com isso?

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“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais democratas, eu calei, porque, afinal, eu não era social democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles levaram a mim, não havia mais quem protestasse” (Martin Niemöller).

 Todas as vezes em que ocorre um massacre humano, uma crueldade que choca a humanidade, como o holocausto nazista, as ditaduras militares, os atentados em Nova Iorque e em Madrid, o terrorismo do governo norte-americano no Iraque e no Afeganistão e, recentemente, o genocídio na Rússia, é comum vermos na imprensa os familiares das vítimas se perguntando desesperadamente: “porque mataram logo quem não tinha nada a ver com isso?”. Por outro lado, nós, expectadores, somos tentados a agir com uma brutal indiferença que parece se justificar na resposta: “eu não tenho nada a ver com isso!”. Tanto a pergunta como a resposta não são novas e remetem a um problema maior de nosso tempo: a extrema falta de solidariedade entre os seres humanos. Diante de um fato social, a pergunta que podemos nos fazer é “até que ponto eu não tenho nada a ver com isso?”

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A política como profissão

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“É correto afirmar, e a experiência histórica confirma, que o possível não teria sido alcançado se não houvesse sempre a tentativa de alcançar o impossível” (Max Weber).

 

A crescente despolitização e descrença da população com relação às instituições políticas é uma marca de nosso tempo. As eleições diretas, antes vistas como um caminho em direção à democracia, passam a ser reduzidas ao estágio máximo de participação política permitida dentro da lógica da sociedade capitalista. Vemos, assim, um meio de disputa da hegemonia sendo transformado em objetivo final de todo o fazer político. Nesta situação, é perfeitamente compreensível que, em países onde o voto é voluntário e facultativo, como a Alemanha, os índices de abstenção venham crescendo a cada eleição, especialmente entre os jovens, o que foi confirmado nas recentes eleições para o Parlamento Europeu. A ausência de controle social dos eleitos e seu descompromisso com as promessas de campanha só tendem a reforçar a idéia da inexistência de diferenças substanciais entre os partidos políticos e a aumentar a frustração com a democracia representativa e as instituições políticas tradicionais.  Como não há efetivas alternativas de mudança em jogo, é diminuído o sentido do voto e a campanha eleitoral se reduz a uma mera escolha de candidatos a um cargo político que, cada vez mais, tende a ser identificado como profissão.

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Aumentar a exploração para garantir empregos?

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Diante do crescente desemprego e da ameaça dos empresários em transferir investimentos para países com salários mais baixos, os trabalhadores estão diante de uma nova ofensiva do capital contra direitos historicamente conquistados. Na Alemanha, os trabalhadores estão sendo submetidos a um aumento da jornada de trabalho de 35 horas para 40 horas semanais, com o argumento da possibilidade de preservação dos empregos. A idéia, que vem sendo defendida há mais tempo pela base dos partidos conservadores CDU/CSU (União Democrática Cristã/União Social Cristã), agora recebe o apoio dos social-democratas no governo e, pasmem, de parte dos sindicalistas que, após o recente acordo realizado na empresa Siemens (sob a alegação de garantir 2 mil empregos na Alemanha), reagem dizendo que trata-se de um caso excepcional, que não deve ser generalizado. Em que se baseia essa tendência e qual é sua probabilidade de expansão?

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A propriedade inventada

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O debate acerca da reforma agrária no Brasil vem contribuindo para colocar em evidência uma antiga problemática: a da propriedade da terra. Considerada por uns um direito inviolável do ser humano e, por outros, um patrimônio que deve ser utilizado produtivamente pelas diversas gerações, a idéia da propriedade privada da terra segue sendo interpretada como conquista adquirida, seja ela política ou econômica. De acordo com a legislação brasileira que versa sobre o tema (a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Terra de 1964 e a Lei n.º 8.629/93), o direito de propriedade da terra é garantido, desde que atenda a sua função social, ou seja, se a sua utilização for condicionada ao bem-estar coletivo. Em caso de descumprimento, cabe ao Estado, baseado no interesse social, a tarefa de desapropriar as formas de ocupação e de exploração da terra que não estejam sendo utilizadas de forma produtiva, valendo-se dos instrumentos de “prévia e justa indenização” do proprietário. A pergunta fundamental, no entanto, deixa de ser colocada: como é possível que a terra se converta em propriedade privada?

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Privatização das sementes: quais são os custos reais?

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“Controlando-se as sementes, caminha-se para o controle de todo o sistema de alimentos: as culturas que serão plantadas, os insumos que serão usados e onde os produtos serão vendidos” (Pat Roy Mooney).

O advento da transgenia na agricultura continua provocando intensas discussões no mundo inteiro. No Brasil, o debate está centrado na polêmica da soja RR (Roundup Ready), resistente ao herbicida Roundup (marca comercial do princípio ativo glifosato), ambos produtos comercializados pela multinacional Monsanto.  Os argumentos favoráveis a essa tecnologia, disseminados pela Monsanto através dos cientistas por ela financiados e de uma intensa campanha publicitária na grande mídia, são os seguintes: 1) a soja tolerante a herbicida teria um impacto positivo na produtividade; 2) as quantidades de herbicida seriam diminuídas, podendo reduzir os custos de produção e propiciar uma maior competitividade da soja no mercado internacional. Os agricultores, em sua maioria, entusiasmados com as promessas da nova tecnologia e os seus eventuais resultados a curto prazo, vêm, crescentemente, adotando a soja transgênica desde 1999, em especial no Rio Grande do Sul, onde o contrabando de sementes da Argentina e a ausência de fiscalização por parte dos governos têm contribuído com a expansão do cultivo ilegal. Diante da situação criada, o governo brasileiro editou em setembro de 2003 uma medida provisória que libera, excepcionalmente, o plantio e a comercialização desta soja. Os argumentos utilizados são, de fato, tão convincentes? E qual é a principal conseqüência da disseminação da soja transgênica para os agricultores?

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Desenvolvimento e cooperação internacional: a solidariedade ale-mã com base na realidade brasileira

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Antônio Inácio Andrioli   A compreensão de política de desenvolvimento de uma instituição e o seu engajamento pressupõem um conceito de desenvolvimento, cujos princípios definem as alternativas e os métodos a serem introduzidos em determinado contexto, com o objetivo de modificar uma situação. De acordo com o EED – Serviço das Igrejas Evangélicas Alemãs para o Desenvolvimento – desenvolvimento é concebido como um processo de superação da fome, da pobreza, de doenças e de estruturas de poder que violam a dignidade e os direitos dos seres humanos…

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Fome Zero: transgênicos Zero!

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Há formadores de opinião que afirmam a importância dos transgênicos no combate à fome, tendo em vista o crescimento mundial da população e a necessidade de um aumento na produção de alimentos. Há produtores de soja chegando a afirmar que “Fome Zero, só com 100% transgênico”. Mas será que a soja transgênica traz algum benefício e contribui no combate à fome? Quais seriam, afinal, as alternativas para acabar com a fome no Brasil e no mundo? O programa Fome Zero, criado no governo Lula, seria uma alternativa que poderia ser generalizada para outros países?

A fome é um problema social decorrente da injusta distribuição de riquezas e não da falta de alimentos. A humanidade está confrontada com uma situação de superprodução, ou seja, a quantidade de alimentos produzida anualmente é suficiente para alimentar uma vez e meia toda a população mundial. É claro que nessa situação precisa ser considerada a insustentabilidade ambiental dessa forma de produzir, uma vez que os custos ambientais são externalizados. O custo ambiental da alta produtividade não pode ser desconsiderado neste cálculo, já que sem a atual exploração dos recursos não renováveis como fonte de energia, a situação seria diferente. No entanto, uma maior produtividade não é a alternativa para combater a fome. Esse argumento é o mesmo que foi usado por ocasião da introdução dos agrotóxicos pelas multinacionais e hoje vemos que a fome aumentou e não diminuiu após a sua presença na agricultura.

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Soja – assim não!? Perspectivas de ações para um comércio de soja sustentável

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O Brasil se tornou, nos últimos 20 anos, o segundo maior produtor de soja e o maior exportador de farelo de soja do mundo. Em 2003 foram colhidas 52,3 milhões de toneladas numa área de 18,5 milhões de hectares, representando 8 bilhões de dólares em divisas, que estariam sendo fundamentais para cumprir o pagamento da dívida externa e para estabilizar a balança comercial do país. De acordo com autoridades brasileiras e produtores de soja, há um potencial de expansão do cultivo da soja para mais 100 milhões de hectares. Desmatamento, aumento do uso de agrotóxicos, destruição da soberania alimentar de comunidades indígenas e de pequenos agricultores, trabalho escravo, êxodo rural e crescimento da pobreza no campo são as conseqüências mais significativas da monocultura da soja. Após o escândalo da vaca louca na Europa, a importação de soja adquiriu maior importância, pois o farelo de soja representa um substituto apropriado à farinha de carne, cuja utilização foi proibida em rações animais.  Também em outros países, especialmente a China, o consumo de soja cresceu, o que pode vir a contribuir com as potenciais estimativas de expansão do seu cultivo no Brasil. Na Europa estima-se que são necessários cerca de 6 milhões de hectares fora do continente europeu somente para suprir a demanda de soja destinada à criação intensiva de animais. Somente a Alemanha importa anualmente 3 milhões de toneladas de farelo de soja, o que aqui ocasiona novos problemas, pois a contaminação dos solos e dos lençóis freáticos vem aumentando progressivamente, especialmente na Baixa Saxônia.

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Trabalho coletivo e educação: um estudo de práticas cooperativas em escolas na Região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

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A Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul possui uma história de trabalho cooperativo e comunitário. No decorrer dos anos 80, com a crise do cooperativismo empresarial e do modelo de agricultura baseado no binômio trigo-soja, vários foram os momentos de discussão sobre novas alternativas de produção e organização nesta região. Como resultado destes debates, em 1992, surgiu a idéia de inserir um trabalho de educação cooperativa nas escolas, com o objetivo de contribuir na construção da consciência associativa dos alunos e na sua participação ativa na sociedade.

O Programa de Cooperativismo nas Escolas, iniciado em 1993, como trabalho conjunto de  diversas entidades da região, envolveu alunos em 11 municípios e constitui-se como referência  ao trabalho cooperativo em escolas. O estudo das práticas cooperativas desenvolvidas por este programa, durante o ano de 1999, originou uma dissertação de mestrado em educação na UNIJUÍ, concluída em 2001. A hipótese básica apresentada é a idéia de que com as práticas cooperativas os alunos constróem uma consciência cooperativa. Ou seja, supõe-se que através do trabalho coletivo os alunos aprendem a se organizar e atuar em grupo para resolver seus problemas, o que influencia no seu processo de consciência. O referencial teórico utilizado baseou-se na teoria marxista, tendo o trabalho como categoria central e explicativa para a educação. A pesquisa de campo foi realizada com 376 alunos e 94 professores em 9 municípios e os seus resultados estaremos apresentando, de forma resumida, através do presente texto.

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